GENIE "Silent Chillhood"

28-02-2020

Após visualização do documentário "GENIE", em Psicologia do Desenvolvimento, foi-nos proposto fazer uma análise e consideração pessoal ao filme, para que em conjunto, possamos debater as diferentes opiniões e pontos de vista, por forma a apresentar uma reflexão geral sobre as temáticas apresentadas.

"Genie já teria algum atraso mental?"

"Acreditam que ela tenha conseguido adquirir linguagem?"

"Importância dos fatores ambientais no desenvolvimento"

"Dilema na ética da investigação".

Com base nas questões anteriores, e após variada pesquisa sobre este caso (anexada no final do artigo), iremos então apresentar a nossa reflexão, esperando conseguir transmitir as nossas ideias!

Segundo o pai, Genie teria nascido com alguma deficiência, motivo que o levou a ocultar o bebé da sociedade. A privação de movimentos e de liberdade, a fraca alimentação, os inexistentes cuidados de saúde, o isolamento familiar, a violência psicológica (humilhação) e física (agressões e abusos sexuais) exercida sobre a criança, obviamente alteraram por completo todas as faculdades que Genie poderia desenvolver em condições normais, com o devido afeto e acompanhamento familiar, adquirindo todas as capacidades inerentes a quem vive em sociedade, com uma certa e determinada cultura.

É sabido que o pai era uma pessoa extremamente violenta em casa, tendo inclusive, numa das vezes deixado a mãe parcialmente cega. No nascimento do primeiro filho, o pai achou que este seria portador de algum atraso e colocou-o na garagem, onde o bebé viria a morrer vítima de pneumonia. No segundo filho, foi efetivamente diagnosticado um atraso, tendo este falecido antes de completar os dois anos de idade, vítima de negligencia. O terceiro filho, John nasceu "aparentemente saudável" aos olhos do pai e teve outra sorte. Viveu grande parte da infância com os avós e, portanto, não sofreu de abusos. Por último nasceu Genie, com malfadado destino!

Apenas o pai saía de casa, assim como o filho John para ir à escola.

Tanto a mãe como Genie eram frequentemente vítimas da violência do pai, sendo impedidas de ter qualquer ligação, limitando a mãe apenas a fazer o suficiente para a sobrevivência da criança. Quando esta (naturalmente) palreava ou emitia sons na tentativa de comunicar era severamente punida.

Saturada com a situação, surgiu a oportunidade de fugir de casa e a mãe não hesitou, levando consigo a sua filha. Dado os conhecidos problemas de visão, esta carecia de ajuda, pelo que decidiu dirigir-se a uma instituição social para solicitar apoio, e o funcionário deparando-se com aquela situação, e achando estranho o baixo desenvolvimento cognitivo e motor da menina, acionou a polícia, que de imediato retirou a menina aos pais e desenvolveu as ações necessárias para desvendar tal atrocidade. O pai foi detido pelas autoridades, o caso tornou-se público, que o levou a cometer suicídio na manhã seguinte.

Apesar dos treze anos de Genie (cronológicos), o estado mental equiparava-se a uma criança de seis.

Entendemos, na generalidade, que Genie não deveria ser portadora de qualquer atraso à nascença, justificando o estado do desenvolvimento motor e cognitivo da menina, pela criação e sobrevivência em cativeiro e consequente debilidade em estímulos e interações. A ausência de uma sociedade e uma cultura predominante e característica nos seres humanos, limitou todas as suas capacidades e comportamentos.

Após conhecimento do caso, Genie foi alvo de intensas observações e estudos, de modo a entender as principais razões de semelhante atraso, na tentativa de o recuperar e tornar possível que aprendesse a caminhar de forma natural, a comer, a utilizar a casa de banho e sobretudo falar.

Recebendo estímulos externos, Genie demonstrou um desenvolvimento verbal natural e positivo, quando comparado com a evolução numa criança com idade mental semelhante. Foi adquirindo algum vocabulário e formas de comunicação e interação social. Tornou-se capaz de formar e transmitir frases, pese embora sem correção gramatical. No entanto, após alguns anos, verificou-se um estagnar na aprendizagem, que levou a um desinteresse pelo caso.

Este desenvolvimento cognitivo progressivo e coerente, reforça a ideia que não teria nascido com qualquer deficiência.

Pensamos que Genie adquiriu linguagem, embora no seu sentido lato, entendendo que tenha desenvolvido capacidades de comunicar com todos aqueles com quem convivia, assimilando os conteúdos que lhe eram apresentados/ensinados e capaz de colocar em prática em momento oportuno. Afinal interpretamos linguagem como um amplo conceito de meio de comunicação e não restringindo à linguagem verbal, podendo ocorrer por meio de gestos, expressões faciais e corporais.

A ausência de estímulos adequados no seu devido período crítico (e repressões sofridas quando tentava falar), levou a um défice de desenvolvimento cognitivo na "Área de Broca" (parte do cérebro responsável pela expressão da linguagem) e na "Área de Wernicke" (parte do cérebro responsável pelo conhecimento, interpretação e associação de informações, mais especificamente a compreensão da linguagem escrita e falada), limitando a capacidade de aprendizagem aos treze anos.

Assim, baseado nestes conhecimentos científicos, podemos de certa forma contrariar a nossa própria opinião, concluindo que não, não houve uma total aquisição de linguagem verbal. Esta fora limitada pelos fatores enunciados anteriormente, quer externos (estímulos) quer internos (aptidão para desenvolver capacidades).

Sabemos que as capacidades de cada um são definidas em sintonia da genética com o ambiente, no entanto ambas têm de ser desenvolvidas em comunhão desde o nascimento, por forma a uma não limitar a outra.

É conhecido que o mesmo se tinha passado após o nascimento do primeiro e segundo filhos, que outras sortes tiveram, por isso entendemos que pode haver uma predisposição genética para que houvesse uma limitação de aprendizagem. No entanto, não há referências à má aprendizagem e desenvolvimento do terceiro filho, que cresceu com os avós.

Assim, remete-nos a dar uma extrema importância aos fatores ambientais no que concerne ao desenvolvimento e aprendizagem da criança, que muito aprende por imitação, por meio familiar, por meio de uma sociedade e uma cultura, e grupos de amigos.

Inicialmente houve um grande interesse na recuperação terapêutica, mas rapidamente percebeu-se um proveito científico, levando a uma grande exposição social e mediática.

Isto implicou que a adolescência de Genie fosse vivida de lar em lar, não havendo a estabilidade social e emocional necessária e pretendida.

Obviamente achamos que tal comportamento por parte dos investigadores e da comunicação social, não seriam tolerados nos dias de hoje, dando primazia a um conjunto de valores em prol do bem-estar da criança. Podiam e deviam ser retirados dados sobre a sua evolução, para análise e posterior ajuste de terapias, mas sempre visando a proteção e preservação dos direitos de Genie, uma criança infantil e inocente...

Apesar dos esforços conjuntos, o benefício retirado foi reduzido, quando comparado ao valor da vida e importância da liberdade.

https://allthatsinteresting.com/genie-wiley-feral-child

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