Fatores Genéticos vs Fatores Ambientais
"Estarão mesmo os atletas a tornarem-se melhores, mais fortes e mais rápidos?"
Nesta apresentação, David Epstein apresenta alguns argumentos sobre a interação dos fatores genéticos e ambientais no contexto desportivo.
Analisado o vídeo, foi-nos solicitada uma reflexão, abordando várias questões:
O que é mais importante para o sucesso, fatores genéticos ou ambientais?
Relativamente à importância do sucesso, se este depende somente da genética ou está implicado a fatores ambientais, encontramos divergências dentro do grupo.
Karine acredita que ambos são importantes e menciona que a hereditariedade tem cota parte no contexto da genética, mas que obviamente deve-se trabalhar diariamente, no sentido de melhorar essas aptidões.
Como fatores ambientais, Karine salienta o esforço mencionado anteriormente e a aprendizagem, como forma de exponenciar essas capacidades e habilidades.
Um atleta que treine endurance todos os dias, terá naturalmente melhores resultados numa maratona quando comparada a uma pessoa que não faça este tipo de treino, mas se essa mesma pessoa treinar sob temperaturas elevadas, certamente estará ainda mais apta para uma maratona, pois desenvolve mecanismos que permitem ultrapassar essas dificuldades, como é exemplo dos quenianos. Neste caso, por força do meio ambiente, esta população está dotada geneticamente, adaptada ao meio onde vivem, e com treino e método, conseguem resultados de nível mundial.

Malu (Maria Luiza) acha que é impossível haver tamanha evolução em apenas 100 anos, partilhando a opinião que os fatores genéticos não são a principal causa desta melhoria de resultados
A tecnologia presente em algumas modalidades (como por exemplo: pista de corrida sintética, tipo de sapatos usados, blocos de partida, fatos de natação integrais) assim como a quantidade e qualidade de treino associado à nutrição, melhoram e influenciam positivamente os resultados obtidos, enaltecendo assim a componente ambiental.
Bruno, por sua vez, considera que para haver sucesso não basta um nem outro, ou seja, cada um com a sua importância, mas sempre lado a lado, em sintonia.
Existir uma predisposição genética é de facto muito importante para se conseguir algo, mas com o acréscimo do estímulo ambiental, essa capacidade melhorará com certeza. Sem esse encorajamento, provavelmente não haveria tanta evolução no desempenho dessa habilidade.
Obviamente o conhecimento e a vontade conduziram a uma evolução de métodos de trabalho, assim como um aprimoramento nos materiais e objetos usados. Se por um lado o atleta evolui com a quantidade e qualidade do treino, por outro pode melhorar ainda mais pelas "facilidades" que se depara com a avanço da tecnologia.
Apesar de algumas divergências neste assunto, todos partilham a ideia principal que os fatores ambientais são os que mais contribuem para o sucesso.
O orador refere em exemplo, uma prova de ciclismo com a duração de uma hora, comparando os resultados atuais e de há 40 anos, mostrando um aumento considerável na distância conseguida. No entanto, impondo as mesmas condições de há 40 anos, verificou-se uma modesta melhoria. Isto denota a importância dos fatores externos.
Será possível ultrapassar os "limites" genéticos? Que exemplos conhecem?
Com a constante evolução, é possível ultrapassar barreiras impostas pela genética, ou pelas capacidades humanas.
O uso de um certo tipo de sapatos, desenvolvido e melhorado ao longo dos tempos e adequados ao desporto em causa, permitem por exemplo, que os 100m sejam corridos abaixo dos 10s, ou então que uma maratona seja concluída abaixo das 2h!
No caso dos 100m, hoje em dia o atleta dispõe de um bloco de partida, e no futebol vemos relvados de excelência (ao contrário de terra batida), chuteiras leves e adaptadas à fisionomia do pé do atleta, bolas de material "x" ultraleves, etc. No ciclismo predomina a aerodinâmica conseguida pelo ciclista, incluindo o design do capacete e as bicicletas são concebidas com o material mais leve possível! As viragens na natação, os ralos nos bordos das piscinas ou o uso de fatos de banho integrais, melhoraram em muito os resultados e performance dos nadadores!
Sem retirar o mérito do atleta, que saiu da sua zona de conforto, trabalhou imenso e com qualidade, em prol de melhorar as suas habilidades, entendemos que a tecnologia é fundamental para se conseguir superar resultados e obter um desporto mais apelativo. Se não houvessem recordes quebrados, se não houvesse espetáculo, certamente o interesse não seria o mesmo.

O desporto adaptado é o melhor exemplo que podemos assistir, onde apesar das limitações impostas pela genética ou por uma redução de mobilidade, com trabalho e com o ambiente favorável, conseguem-se feitos incríveis!
Será igual em todas as modalidades?
Pese embora a tecnologia seja de extrema relevância na performance, algumas modalidades exigem mais da genética.
Antigamente achava-se que havia um conjunto de características física, e quem dispusesse dessa fisionomia, seria bem-sucedido em todos os desportos. Valorizavam-se as proporções ideais.
Ao longo dos anos foi-se percebendo que não era bem assim e que o biótipo corporal condicionava ou auxiliava determinados desportos.
É o caso da estrutura física do atleta! A altura, o comprimento de alguns segmentos, o peso, o volume, etc., são exemplos da limitação genética!
A altura é um fator genético e não pode ser manipulada, no entanto pode ser aproveitada num desporto específico que exija atletas mais altos ou mais baixos (como é exemplo do basquetebol, voleibol ou ginástica). Se quisermos esmiuçar, associamos o maior comprimento dos braços (envergadura) ao basquetebol, o antebraço maior ao polo aquático, o tronco mais comprido à natação e as pernas à corrida. Um saltador em altura será pouco mais alto que um lançador de peso, mas este último quer-se muito mais pesado.

Assistimos ao que os especialistas apelidaram de "Big Bang dos Corpos", aproveitando cada tipo de corpo e característica à especificidade de uma modalidade. Um desporto que careça de atletas altos busca agora os mais altos. Ao invés, um que exija uma estatura mais reduzida, procura os mais baixos. E assim, quando se entram em pormenores, selecionam-se os mais "esquisitos"!
Qual o impacto (positivo e/ou negativo) da seleção e identificação de talentos?
A seleção e identificação de talentos apenas sinaliza um potencial atleta de excelência àquela modalidade, baseada em características físicas e/ou conjunto de habilidades.
No entanto é de fácil entendimento que ninguém deve ser excluído de uma modalidade, tendo em conta apenas alguns dos seus atributos físicos. Mais importante que essas características, são o conjunto de habilidades e a vontade de cada um.
Não é inteligente estereotipar e descartar a motivação e dedicação de alguém que ambiciona ser o melhor, e que com mais ou menos esforço e trabalho, consegue atingir níveis de excelência.
Temos o caso dos jogadores da NBA que têm em média 2,13m e por isso beneficiam nos lançamentos, mas é sabido da importância de jogadores de estatura inferior (p.e. Isaiah Thomas com 1,75m), mais ágeis e rápidos, destacando-se em certas situações de jogo.

Malu e Karine, talvez por experiência vivida, acreditam que além de uma modalidade, o desporto na sua generalidade, por si só assinala exclusões. Havendo competição, forçosamente há exclusão! Há mais de 100 anos já existia o modelo de corpo ideal, com um biótipo e peso mediano, apostando sucesso. A seleção surge como uma nova oportunidade de encaixe em diferentes modalidades, abrindo o leque de inclusão. No entanto, mesmo sem o biótipo favorável a uma determinada modalidade, os fatores ambientais (vontade, esforço, dedicação, treino, método, etc.) com certeza irão prevalecer sobre a adversa genética, conduzindo ao pretendido sucesso.
A vasta variedade e seleção de atletas permite que o desporto seja mutável, dinâmico e mais competitivo.
Os fatores genéticos permitem atingir resultados mais rapidamente?
É de opinião unânime que a genética facilita a aquisição e melhoramento de uma habilidade, atingindo resultados mais rapidamente quando comparado a uma pessoa sem esse "dom".
No entanto, a prática e treino de qualidade e em quantidade, permite que um atleta sem "bênção genética" também possa ser sublime e atingir a excelência!
O talento pode nascer e acompanhar a infância da criança, denotando apetências para uma modalidade em particular, no entanto, não havendo estímulos externos e um ambiente favorável, entendemos que dificilmente será sublime.
