Jovem adulto ao idoso
DESAFIOS
Envelhecer é difícil, ainda mais se esse envelhecimento é acompanhado por um conjunto de dificuldades a nível mental e físico.

Podemos desde já, fazer uma breve comparação entre jovens adultos e o adulto idoso. Um jovem adulto, em perfeitas condições físicas e sem dificuldade para se exercitar, mas normalmente, sem grande disponibilidade. Já um adulto idoso, muita disponibilidade, mas com algumas limitações a nível físico.
Se desde o início forem criadas rotinas de práticas de exercícios e disponibilizar, pelo menos 30 minutos do dia, para fazer qualquer atividade física, futuramente essa prática será mais fácil de ser realizada, seja ao nível do hábito, como da condição e preparação física. Por outro lado, se enquanto jovem, não houver essa disponibilidade e vontade, em idos será certamente um entrave. Ao longo desta reflexão, iremos abordar os benefícios dessa prática diária e malefícios com a falta dela.
Com o passar da idade, os maiores desafios enfrentados devem-se à saúde, desenvolvimento físico e cognitivo. Com o aumento da idade, simples tarefas tornam-se menos fáceis, influenciando a vida social.
A fase do "Jovem Adulto" foi recentemente adotada e caracteriza-se pelo conceito de evolução na maturidade. Esta agrega critérios externos e internos, como a independência dos pais, aquisição de um sistema de valores próprios, relações sociais e atingir um nível de autonomia e responsabilidade pessoal. Não se trata, portanto, de um evento isolado, mas sim um estado de espírito.
Para atingir o estado maduro (idade adulta), é necessário que a pessoa aceite e assuma as suas responsabilidades, seja capaz de tomar decisões por si e que seja financeiramente independente (Arnett, 2006). No entanto, pode acontecer um adiamento dessa vida adulta, com a tomada de algumas decisões, como por exemplo continuar ou voltar a estudar, ou uma oportunidade profissional que crie expetativas, mas que inicialmente seja exigente, levando a que o jovem adulto, apesar de toda a sua independência e maturidade, continue a viver com os pais.
De facto, a idade média que os jovens adultos saem de casa (e tornam-se verdadeiramente independentes), tem vindo a aumentar, em alguns países mais que outros, fruto da sua cultura. Trata-se do "Relógio Social", que varia de acordo com normas e expetativas da sociedade e da cultura presente. Diferenças de gerações, personalidade e o contexto presenciado também influenciam essa mudança, tendendo para o adiamento dessas tarefas (responsabilidades).
É nesta fase (jovem adulto) que se atinge o pico da condição física, com uma boa saúde e menor taxa de mortalidade associada a causas diretas. Contudo vários fatores podem influenciar negativamente na saúde, como por exemplo a nutrição (com dietas "caseiras" e sem acompanhamento de profissional); sedentarismo e consequente sobrepeso ou obesidade; o stress incidente na pessoa (pelos mais variados motivos e tão comum nesta idade); os riscos e vícios (tabaco, álcool, etc.), sono insuficiente e reduzida atividade física. Estes fatores são prejudiciais a uma vida saudável.

O nível socioeconómico e as relações sociais (ou a falta delas) também influenciam, ainda que indiretamente, a saúde e condição física. O aumento da responsabilidade e independência financeira, e a complexidade em conseguir fazer essa gestão, acarreta problemas psicológicos (stress, ansiedade, depressão, etc.) inerentes a essas dificuldades.
Tal como observado no "post" anterior (problemáticas da adolescência), o cérebro continua em desenvolvimento até ao final dos 20 anos (havendo aqui uma alteração sináptica até meados dos 30 anos), que faz denotar diferenças entre o "gerir" e o "fazer" (inteligência prática e emocional). De facto, elevados padrões de variabilidade no desempenho cognitivo estão associados uma vez mais a um nível socioeconómico e especialização profissional.
Segundo a teoria Psicossocial de Erikson, cada fase termina com a resolução de um problema e neste caso (início da vida adulta) seria o paradigma "Intimidade e isolamento", ou seja, a capacidade de se relacionar com outras pessoas, formar família e dividir uma vida, ou então optar pelo seu "isolamento", viver só, possuir independência financeira à mesma, e não ter que dar satisfações a outro. Além de que a liberdade será completamente diferente.
Nesta fase da vida, observa-se um desenvolvimento psicossocial através da necessidade e desejo de independência parental, e das relações interpessoais, que se caracterizam por uma maior proximidade, similaridade, atração física e reciprocidade. Estabelecem-se novas amizades (com muita facilidade) e relações íntimas, criando uma "família psicológica" a qual recorrem para satisfazer as suas necessidades sociais e, portanto, atingir o bem-estar.
Já a meia idade reflete uma grande diversidade de estilos de vida, identificando uma geração que está no comando, seja como pais ou avós (já que as fronteiras da meia idade são pouco claras), ou mesmo filhos "responsáveis" por pais idosos.
Geralmente nesta fase observa-se um período crítico, conhecido por crise da meia idade, rejeitando a verdadeira idade. Contudo, outros adultos, sentem-se no seu auge.

As tarefas agora são outras. Atingir responsabilidade cívica e social; estabelecer e manter um padrão económico de vida; ajudar as crianças adolescentes a tornarem-se adultos responsáveis e felizes; relacionar-se com o seu cônjuge como pessoa; desenvolver atividades adultas de lazer e aceitar e ajustar-se às mudanças fisiológicas da meia idade, e aos pais que envelhecem. Erikson refere esta fase como Generalidade vs Estagnação, onde o individuo reconhece que a vida não é só sobre si mesmo e atua de maneira a contribuir para as gerações futuras repassando o seu conhecimento. No entanto, se isso não acontecer pode experienciar um sentimento de estagnação pessoal e incapacidade de fazer algo significativo no mundo.
Começam a surgir alguns sinais de envelhecimento e problemas de saúde, como a degradação da vista, audição e força física (mas não resistência). Hipertensão, diabetes, menopausa e disfunção erétil são outras preocupações. Cérebro mais lento e dificuldade de concentração com "brancas" nas ideias (tip-of-the-tongue), todavia as capacidades cognitivas acabam por ser compensadas pelo ganho de experiência.
Assim percebe-se a importância da manutenção de estilos de vida saudáveis e prática de exercício físico.
Por força do desenvolvimento económico, melhor nutrição e avanços na ciência, tecnologia e medicina, a esperança média de vida da população idosa, tem vindo a subir consideravelmente, existindo agora três fase diferentes: os "Jovens idosos" (65 a 74 anos), "Idosos Idosos" (75 a 84 anos) e os "Idosos velhos" (mais de 85 anos), havendo ainda a comparação das capacidades físicas e sociais aos demais idosos da mesma idade, indicando a idade funcional, que inibe a generalização do idadismo (atitude preconceituosa e discriminatória com base na idade, sobretudo em relação a pessoas idosas).
O envelhecimento é agora evidente, quer pelas alterações físicas, sensoriais e psicomotoras, bem como doenças crónicas comuns (doenças cardíacas, cancro, AVC, sistema respiratório, hipertensão, diabetes, alzheimer e pneumonia).
Razão dos anos vividos, o idoso pode apresentar um quadro de demência, interferindo nas suas atividades diárias, carecendo de um apoio especial. Esse declínio cognitivo é sobretudo afetado pelo nível socioeconómico, o nível educacional e as capacidades cognitivas anteriores, daí a importância da atividade física e estilos de vida saudáveis nos idosos.
No entanto nem tudo é negativo, a velocidade de processamento mental pode diminuir com a idade, mas outras competências podem melhorar ao longo da vida adulta, mostrando um melhor equilíbrio e desempenho em atividades cotidianas. Na verdade, testes de QI realizados a idosos tendem a apresentar resultados similares aos dos mais jovens, onde as diferenças são mais acentuadas encontram-se ao nível do processamento de informação, enaltecendo a "experiência".
O dilema nesta fase, segundo a Teoria de Erikson, consiste na "Integridade vs Desespero". Se não conseguirem ser íntegros (completos) e realizados, com os objetivos de vida alcançados, verifica-se um lamento e desespero, fazendo-os sentir frustrados e inúteis.
EFEITOS DO EXERCÍCIO A NÍVEL CEREBRAL
Para abordar esta temática, nada melhor que o TEDtalk de Wendy Susuki, uma professora de neurociência, que aborda os poderosos efeitos da atividade física.
Wendy começa por assinalar duas partes do cérebro, principais no que concerne à memória e tomada de decisões. O córtex pré-frontal, mesmo por detrás da testa, é essencial para a tomada de decisões, para a atenção e para a personalidade. E o hipocampo, no fundo do lobo temporal, é uma estrutura crucial para formar e reter memórias de factos e acontecimentos a longo prazo. Como apaixonada por esta área dedicou muito do seu tempo a investigar o comportamento cerebral das células do hipocampo.
Literatura sugere que a prática de atividade física melhora o humor, memória e a atenção, e aumenta a energia. De facto, segundo Wendy, o exercício é a coisa mais transformadora que podemos fazer hoje pelo nosso cérebro, e explica. A primeira, com efeitos imediatos no cérebro, onde um único treino irá aumentar de imediato o nível de neurotransmissores como a dopamina, a serotonina e a noradrenalina, melhorando o humor logo após o treino. Um só treino pode melhorar a capacidade de mudar e focar a atenção e essa melhoria vai durar pelo menos duas horas. Estudos mostraram que um só treino vai melhorar o tempo de reação. Mas para tornar estes efeitos permanentes, há que aumentar a função respiratória, alterando assim a anatomia, a fisiologia e a função do cérebro, estimulando a produção de novas células cerebrais, aumentando o volume do hipocampo e consequente memória a longo prazo.
A segunda, o resultado mais comum em estudos de neurociência sobre os efeitos a longo prazo do exercício é a melhoria da função da atenção, que depende do córtex pré-frontal, ou seja, o exercício não só tem efeitos imediatos na disposição como os tornam duradouros. Na verdade, o fator mais transformador do exercício são os efeitos protetores no cérebro. Quanto mais o exercitarmos maiores e mais fortes serão o hipocampo e córtex pré-frontal, as duas áreas mais suscetíveis a doenças neurodegenerativas e ao declínio cognitivo associado à idade. A prática de exercício durante a vida não irá curar ou inibir a doença, mas certamente podem adiar esse aparecimento.
Wendy termina com um pensamento: "Inserir exercício na nossa vida não só nos dará uma vida mais feliz e preventiva, mas também vai proteger o nosso cérebro de doenças incuráveis. E isso vai mudar a trajetória da nossa vida para melhor."

As Diretrizes do Colégio Americano de Medicina do Desporto (2014) afirmam que há evidências que comprovam a relação inversa entre a prática de exercícios físicos regulares e vários problemas como: a mortalidade prematura; hipertensão; derrames, osteoporose; diabetes tipo 2; síndrome metabólica; obesidade; cancros; depressão; saúde funcional e quedas; aumento da função cognitiva. Assim como a relação direta com o aumento da função física e da vida independente de idosos, aumento da sensação de bem-estar, melhoria do desempenho no trabalho e em atividades recreacionais e desportivas, redução do risco de lesões decorrentes de quedas por idosos, prevenção ou mitigação das limitações funcionais em idosos, terapia efetiva para muitas doenças crónicas em idosos.
Temos então como principais benefícios com a prática de exercício físico o aumento do rendimento académico, assertividade, confiança, estabilidade emocional. Funcionamento intelectual, locus de controlo interno, memória, perceção, imagem corporal positiva, autocontrolo, satisfação sexual, bem-estar e eficiência no trabalho. Ao mesmo tempo que diminui o absentismo no trabalho, abuso no álcool, irritação, ansiedade, confusão, depressão, hostilidade, fobias, comportamento psicótico, tensão, erros no trabalho.
BARREIRAS E ESTRATÉGIAS
Durante a juventude, a gestão do tempo, estudos e definição de "prioridades" são os principais fatores para a não realização de atividade física.
O declínio das capacidades físicas (talvez por más experiências de educação física na infância, e a pouca prática), o ambiente, a ausência de conselho do médico e a falta de conhecimento são as principais barreiras para a atividade física na 3ª idade (Schutzer et al., 2004)
Combater esta situação parte de todos, desde o professor a incutir esses hábitos na criança, até ao médico de família que pode e deve aconselhar atividade física adequada à pessoa. A prática de exercício desde criança criará hábitos e rotinas, que poderão ser essenciais para a manutenção na idade adulta e idosos.
Nos idosos, traduz-se em benefícios como: promoção do funcionamento cognitivo e memória; promoção da coordenação, equilíbrio, força física, flexibilidade e resistência aeróbica; aumento na capacidade cardiopulmonar respiratória e circulatória; aumento do bem-estar e qualidade do sono; diminuição de doenças como depressão, ansiedade, obesidade, osteoporose, diabetes, enfartes, etc.; e atenua/atrasa os efeitos degenerativos do envelhecimento;

Assim, para estimular a prática física na 3ª idade, atividades matinais de 30 minutos, como caminhar; nadar; hidroginástica, cycling ou dança, executadas a uma baixa intensidade (sem competição) e preferencialmente em grupo e no exterior, parecem ser melhores soluções para apresentar. Apresentar exercícios de baixa dificuldade e ao longo dos treinos, estipular metas atingíveis e ir aumentando o ritmo e dificuldade dos mesmos, sempre considerando as suas necessidades específicas.
Este convívio reforça as relações sociais. Pessoas com melhores laços sociais com a família e comunidade são mais felizes, fisicamente mais saudáveis e vivem mais tempo. A experiência da solidão, acaba por ser tóxica e diminui mais rapidamente o funcionamento cerebral, diminuindo a qualidade de vida.
E boas relações atraem felicidade. Pessoas que se sentiam mais satisfeitas com as suas relações aos 50 anos, foram mais felizes aos 80 anos. Idosos que tinham relações com menos atritos, tinham mais dores físicas, mas a sua disposição continuava a mesma. Em contraponto, as pessoas que relataram ter relações menos felizes, essas dores físicas eram reforçadas "dores emocionais".
É normal haver atritos, mas como em tudo na vida, o excesso faz mal! As boas relações protegem o corpo, mas também protegem o cérebro. Pessoas que têm uma relação onde podem confiar, a memória mantem-se viva durante mais tempo. Já as que não tinham ninguém que podiam confiar, apresentavam um declínio de memória precoce.
Referencias:
Aula teórica Psicologia do Desenvolvimento, Tarefas desenvolvimentais nos vários domínios de existência: Do jovem adulto ao idoso (19 de maio de 2020)
TED Talk Wendy Suzuki - The brain changing benefits of exercise?
American College Sports Medicine (2014). Diretrizes do ACSM para os testes de esforço e sua prescrição (9 ed). Rio de Janeiro: Guanabara.