Inteligência múltipla e o desporto

Relativamente ao post anterior, e como complemento, iremos agora abordar os tipos de inteligência mais importantes no contexto desportivo, as inteligências predominantes em atletas de elite, e como podem os professores/treinadores promover a aprendizagem tendo em consideração as diferentes "inteligências" dos seus alunos/atletas?
Na nossa opinião, a INTELIGÊNCIA CINESTÉSICA é das mais importantes para a performance desportiva. A capacidade de controlar os movimentos, a coordenação e manuseio de objetos é essencial em qualquer desporto.
Dessas habilidades, dependem a expressão corporal, a perceção espacial, de medidas e volumes, ampliadas através da ação sistemática e automatização de habilidades. É aqui que se fazem denotar os atletas de alta competição, através da prática continua e observação constante da sua modalidade.
Ter aptidão física é meio caminho andado para brilhar no mundo desportivo! Contudo, que deve fazer o atleta para continuar a estar motivado perante as divergências que surgem? Não menos importante, a inteligência intrapessoal tem um papel essencial no desporto. A autorreflexão e observação interior do atleta dá-lhe oportunidade de mudar ou ultrapassar as restrições das suas habilidades ou interesses. Em consequência isto irá refletir num aumento de confiança e sucesso na sua carreira. Perceber o motivo pelo qual está disposto a investir tudo o que tem é que distingue um atleta de um atleta de elite.
Numa equipa é necessário um capitão, um líder, alguém que este domínio seja superior e consiga compreender e interpretar as emoções, intenções e motivações dos outros, interligar e aumentar as capacidades de todos, sendo assim um elo de ligação muito importante entre tudo e todos. A facilidade de comunicar, em saber escutar e fazer-se ouvir é uma capacidade de igual modo importante, e essencial em desportos coletivos.

Será tão ou mais importante numa equipa, uma INTELIGÊNCIA INTERPESSOAL e INTRAPESSOAL a uma inteligência cinestésica. Afinal, o melhor do mundo, se não se encontrar em sintonia com os restantes, se não estiver estável emocionalmente, ou ainda se existir algum conflito, certamente não fará a diferença, mesmo sendo o melhor do mundo.
Para obter o sucesso, é importante existir uma harmonia entre inteligências, mesmo que alguma delas se faça evidenciar. Num grupo de trabalho, numa equipa, sendo todos diferentes de todos, esta homeostasia intergrupal fará com certeza a diferença. Vejamos uma equipa de futebol ou voleibol, se forem todos apenas muito bons nas relações interpessoais, excelente! Mas e quais seriam os resultados desportivos? E se fossem apenas muito bons fisicamente? E se fossem todos muito bons a saltar, mas sem reflexos apurados?
Baseados na leitura de Melanie Mitchell & Michael Kernodle, todos têm plenas capacidades para aprender qualquer modalidade dentro do contexto desportivo. Os tipos de inteligências predominantes, obviamente tornarão essa aprendizagem mais ou menos fácil. Afinal, uma vez que todos possuem todos os tipos de inteligência, e estas se interligam, é fundamental para o professor/treinador entender qual o método de ensino/treino mais eficaz, para determinado aluno/atleta, e não o oposto.

Deste modo, para conseguir evoluir numa determinada capacidade, no mundo do desporto, o atleta deve obter todos os estímulos possíveis, baseados em todas as inteligências, pois como sabemos todas se interligam e complementam.
Pela lógica ou matemática, podemos melhorar através da análise de estatísticas, prevendo o que pode advir. Pelo lado intrapessoal, por exemplo, fazer o currículo de competências, virtudes e defeitos e assim refletir sobre o que está menos bom e trabalhar para melhorar, mesmo carecendo de mais tempo para processamento de informação. A música pode auxiliar em situações que a imposição de ritmo seja preponderante.
Assim, é fundamental a formação, assim como o conhecimento por parte do treinador dos vários tipos de inteligência e transforma-los em mecanismos e métodos de utilização, culminando no sucesso do atleta ou do grupo.
Referências: Melanie Mitchell & Michael Kernodle (2004) Using Multiple Intelligences to Teach Tennis, Journal of Physical Education, Recreation & Dance, 75:8, 27-32, DOI: 10.1080/07303084.2004.10607286
