Inteligências: Unidimensinal e Múltiplas  

17-04-2020

Na década de 1890, William James, o pai da psicologia americana, disse: "Muitos de nós não utilizamos todo o nosso potencial intelectual".

Um mito diz que apenas usamos 10% do nosso cérebro, e o restante permanece inativo, em reserva. Ora, sabendo que o cérebro de um humano adulto (que representa apenas 2% da massa corporal), consome 20% da glicose diária (nas crianças, esse número é de 50% e nos bebés 60%), essa ideia de que o nosso cérebro permanece inativo parece absurda

Em 1900, apenas professores, médicos e poucos mais, tinham exigências cognitivas para a execução dos seus trabalhos, e hoje em dia existe uma enorme gama de profissões e subprofissões que exigem muito e mais conhecimento, além da procura constante de atualização.

Por força da evolução, do "lógico" e "óbvio" para o "abstrato" e "hipotético", numa constante mudança e complexidade, somos obrigados a desenvolver capacidades e habilidades, ou seja, forçosamente, as nossas mentes também evoluíram.

Comparemos um médico de outrora, que antes detinha alguns conhecimentos e truques, com o clínico geral ou o especialista dos dias de hoje, com anos de formação científica. Um banqueiro apenas necessitava um bom contabilista. Ou um agricultor que só trabalhava as terras de outros, e que hoje em dia é um autêntico gestor agrícola.

O "mundo" não evoluiu, por haver mais profissões cognitivamente exigentes, mas sim porque as pessoas são cognitivamente muito mais flexíveis.

É sabida da drástica mudança de resultados em testes de QI ao longo do tempo, e geração após geração, essas pontuações têm vindo a ser cada vez mais elevadas. Porquê? Seriam os nossos avós e bisavós menos inteligentes?

Os testes de QI têm vindo a ser adaptados e melhorados, tendo uma perspetiva mais ampla sobre o que avaliar. Na verdade, se analisássemos as pessoas de à 100 anos atrás, mas com o rigor e normas atuais, muito provavelmente obteríamos um QI semelhante ao da população moderna.

O QUE É A INTELIGÊNCIA?

A inteligência pode ser definida de uma forma muito geral como a capacidade que, através de diversas competências, tais como assimilar conhecimentos concretos, recordar acontecimentos, raciocinar logicamente, manipular conceitos (números e palavras), traduzir o abstrato em concreto, analisar e sintetizar formas, enfrentar com sensatez e precisão os problemas e estabelecer prioridades entre um conjunto de situações, permite-nos uma adaptação bem-sucedida ao meio.

Pode ainda ser assente na capacidade que o Homem tem para lidar com várias situações, aplicando as mais variadas habilidade e soluções adequadas à obtenção do sucesso. Falamos das capacidades mentais que permitem à pessoa adaptar, moldar ou selecionar o seu ambiente, a capacidade de julgar, compreender e raciocinar, a capacidade de compreender e lidar com pessoas, objetos e símbolos, e por último, a capacidade de agir de forma propositada, pensar de forma racional, e lidar de forma eficaz com o ambiente.

MEDIR A INTELIGÊNCIA

Francis Galton (1822-1911), primo de Charles Darwin foi o primeiro a abordar o tema. Acreditava na eugenia (bem-nascido, hereditariedade). A sua tese afirmava que um homem notável teria filhos notáveis. Que podíamos ser melhores, se fossem evitados "cruzamentos indesejáveis", levando ao pensamento orgulhoso.

Alfred Binet (1857-1911) e Thedore Simon (1873-1961) introduziram o conceito de idade mental que seria o nível intelectual médio correspondente a idade cronológica.

Esta seria a primeira escala métrica de inteligência a ser usada, e baseava-se na relação entre a idade mental e a idade cronológica, multiplicada por 100. Tínhamos então o Quociente de Inteligência (QI).

Tal como é medido nos diferentes testes psicométricos, o QI é uma classificação global de um teste em relação a normas impostas por um determinado grupo tendo em conta a idade, sexo e nível socioeconómico. O problema encontra-se por medir somente a capacidade funcional num determinado momento e não o seu potencial futuro. Não é em si mesmo indicador de origem genética, do inato ou ambiente das habilidades que reflete.

Entretanto, surge uma nova teoria - Bifatorial, por Spearman (1863-1945), que defendia que todos os indivíduos possuíam o mesmo grau de inteligência em diferentes áreas e que esta era uma capacidade unitária subjacente a todas as nossas capacidades intelectuais.

Por outras palavras, se uma pessoa tinha bom desempenho num teste de habilidade verbal, teria também bom desempenho noutra habilidade cognitiva, como por exemplo matemática.

No entanto, Spearman percebeu que essa correlação, do fator "g" não seria perfeita, e admitiu a intervenção de outros fatores específicos.

Louis Thustone (1887-1955), após aplicar e estudar o método fatorial de Spearman a fundo, chegou a conclusão que os teste de QI dependiam muito do fator "g".

Após verificar diferenças no desempenho dos variados subtestes, destacou que o cerne da inteligência não residia num fator geral, mas na combinação de 7 aptidões gerais, que designou por aptidões mentais básicas, aparecendo assim mais uma teoria, a "Multifatorial".

Estas aptidões eram de natureza diferente, independentes entre si e cada uma delas poderia entrar com pesos diferentes em diferentes atividades

Posteriormente, em 1985 Sternberg apresentou a inteligência "triárquica", dividida em três ramos. A convencional (analítica) que consistia em analisar, comparar e avaliar; A criativa (experimental) que media a capacidade de criar, inventar e planear; E a prática (contextual) que avalia como aplicam e usam os conhecimentos.

A última e mais utilizada teoria, é a das INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS, por Howard Gardner, que defende que não existe inteligência global, mas sim múltiplas inteligências que coexistem entre si. Cada inteligência é completa e separada das outras, podendo ser expressa de várias formas.

Segundo Gardner, Inteligência é "capacidade de resolver problemas ou criar produtos que são significativos para um ou mais grupos culturais".

Então, atualmente, temos as seguintes inteligências:

- Linguística (Expressão através da fala e escrita)

- Espacial (Visualização do mundo em 3D)

- Musical (Interpretação de vários sons. A sua tonalidade, ritmo, etc.)

- Logica-Matemática (Quantificar, construir hipóteses, cálculo)

- Cinestésica-Corporal (Coordenação mental com o corpo)

- Intrapessoal (Autorreflexão)

- Interpessoal (Interação social, perceção de sentimentos)

- Naturalista (Compreensão dos seres vivos e contato com a natureza)

Malu e Karine, ao realizar o teste de inteligência triárquica, sentiram-se um pouco frustradas, pois acham que, na sua conceção, este não tinha perguntas suficientes para determinar a predominância de um tipo de inteligência. Mais ainda, quando as respostas possíveis eram apenas "verdadeiro" e "falso", enfatizando os extremos das respostas. O teste de inteligências múltiplas, com um número de questões bem mais extenso, com perguntas muito mais objetivas, no entanto ainda não suficientes para julgar o seu nível de inteligências.

Entende que tais testes não são indicadores eficazes de níveis absolutos e acertados de inteligência, porque dependendo do dia, do humor, paciência e da idade, as respostas podem alterar o resultado.

Karine, acredita que os testes de QI não foram melhorados e adaptados aos diferentes tipos de inteligência. Mas sim que agora existem outros testes para medir os vários tipos de inteligência, que complementam o teste de QI.

PARA QUE SERVEM OS TESTES DE QI?

Se por um lado, um valor elevado de inteligência pode ser positivo e motivacional, o oposto pode, precisamente, desmotivar e deprimir. De igual modo, por não aferir a realidade precisa de um modo global, pode subestimar ou sobrestimar as competências de alguém, e desse modo alterar o futuro dessa pessoa.

Entendemos que os testes poderão ser utilizados, para sinalização de alguma competência (aconselhamento), ou algum problema de aprendizagem (adaptação), mas nunca para "empurrar" ou "impedir" alguém de ser o que deseja ser.

Todas as crianças têm talentos tremendos e nós estragamo-los, impiedosamente. Se não sabem, tentam, sem medo de errar. Não significa que errar é ser criativo, mas se não estivermos preparados para errar, nunca conseguimos nada de original.

Quando chegam a adultos, a maior parte das crianças já perdeu essa capacidade, ficam com receio de errar! Porquê?

Em nossa opinião, a criatividade é tão importante no ensino como a literatura e a matemática, e deve estar no mesmo patamar.

Vejamos o exemplo de Gillian Lynne era uma menina muito irrequieta.

Gillian não conseguia concentrar-se, perturbava os outros, os trabalhos de casa estavam sempre atrasados e não parava quieta, então os pais foram chamados à escola. Teria problemas de aprendizagem!

A mãe decidiu leva-la a um especialista, e enquanto falava com o médico, a menina aguardou sentada na mesma sala, sossegada.

Após ouvir atentamente a mãe enquanto observava a menina, decidiu ligar um rádio e deixa-la sozinha na sala. Assim que saíram da sala, ela imediatamente levantou-se e desatou a dançar, enquanto sem saber, era observada por ambos.

O Médico virou-se para a mãe e disse: "A Gillian não está doente, ela é uma bailarina. Leve-a a uma escola de dança". E a mãe assim fez.

Mais tarde, acabou por ir a uma audição da Royal Ballet School, tornou-se solista, teve uma carreira maravilhosa no Royal Ballet. Acabou por se formar na Royal Ballet School, fundou uma companhia, a Companhia de Dança Gillian Lynne. Foi a responsável por alguns dos musicais de maior sucesso na história, com são exemplo "Cats" e "Fantasma da Ópera", tem agradado a milhões e é multimilionária.

Outros ter-lhe-iam medicado e dito para se acalmar.

Todos os sistemas de ensino têm as mesmas prioridades, no topo estão a matemática e as línguas, depois as humanidades e na base estão as artes.

O nosso sistema de ensino assenta na ideologia das capacidades académicas, talvez por ter surgido para satisfazer as necessidades da industrialização.

Mas a inteligência é mais que isso, é diversa, dinâmica e distinta. Diversa porque pensamos sob todas as formas, visual, auditiva, cinestésica, etc. Dinâmica porque pensamos de forma criativa, através da interação de diferentes formas de ver as coisas. E distinta, porque cada um de nós tem um talento único, e que apesar de não ser muito bom a uma ou outra coisa, pode ser excecional a outra ou outras coisas.

Um estudo algo controverso, mas em minha opinião, elucidativo, é o teste do marshmallow, onde crianças com idades entre 4 e 5 anos, fechadas numa sala apenas com uma cadeira, uma mesa com um marshmallow pousado, teriam de "aguentar" 15 minutos sem comer o doce e então recebiam outro. Se para um adulto, "esperar" é uma tarefa difícil, imagine-se para uma criança com a guloseima à sua frente. Duas em cada três crianças comeram o marshmallow.

Mas as outras, com muito sacrifício e esforço, conseguiram aguentar e foram premiadas.

Essas crianças, com quatro anos, já compreendiam o princípio mais importante para o sucesso - a capacidade de saber esperar pela recompensa. Autodisciplina, o fator mais importante para o sucesso.

Anos mais tarde, agora adolescentes, foram entrevistados, e descobriram que 100% das crianças que não tinham comido o marshmallow eram bem-sucedidas.

Este teste foi replicado noutros países, por outros investigadores e a conclusão é idêntico, há correlação entre a autorregulação e o sucesso.

A título de curiosidade, na Coreia, este princípio é incutido em todas as crianças!

REFLEXÃO

"Para uma seleção justa, todos devem fazer o mesmo exame:

por favor, subam esta árvore!"

Todos têm as suas capacidades. Se apenas olharmos a uma "capacidade", estamos a limitar o nosso potencial. Se julgar um peixe pela sua habilidade em subir árvores, de facto o peixe é "burro"!


Aconselhamos a visualização destes monólogos, tão ricos em opinião, que nos ajudaram imenso na nossa reflexão! E fiquem a pensar...

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