Problemáticas da Adolescência

TECNOLOGIA
Inicialmente julgava-se que grande parte do desenvolvimento cerebral acontecia nos primeiros anos de vida. Quando se tornou possível observar e analisar o "conteúdo", tamanho e comportamentos, através de novas tecnologias (por exemplo a ressonância magnética), foi possível observar que a massa cinzenta do cérebro varia o seu tamanho consoante a idade, revelando que esse desenvolvimento não se encerra na infância, continuando em constante evolução durante toda a adolescência, até sensivelmente aos 30 anos.
Os métodos que foram adotados para que isso fosse possível, foi a chegada da imagiologia por ressonância magnética (IRM). Esta por sua vez, segundo Giedd, "permite que se tenha um acesso sem risco e sem precedente à anatomia e à fisiologia do cérebro vivo. Estudos longitudinais com IRM começam a mapear as trajetórias desenvolvimentais da maturação do cérebro e a explorar as influências genéticas e ambientais sobre essas trajetórias na saúde e na doença. Como a IRM não utiliza radiações ionizantes, permite não somente explorar o cérebro de crianças e adolescentes em boas condições de saúde, mas também repetir os exames ao longo do seu desenvolvimento".
A principal mudança dá-se ao nível do córtex pré-frontal, justamente a região onde se processam comportamentos tipicamente de adultos, como capacidade de planeamento, concentração, inibição de impulsos e empatia. Ao mesmo tempo que a remoção do excesso de sinapses aperfeiçoa o funcionamento dessa importante área, as novas e melhoradas fibras com mielina permitem que diferentes partes dentro do pré-frontal se comuniquem melhor, resultando num aperfeiçoamento da linguagem e da coordenação motora, por exemplo.
Assim, surge uma nova definição de adolescência, que inicia com as mudanças biológicas, hormonais e físicas (puberdade), e termina quando a pessoa atinge um patamar de estabilidade e independência na sociedade.
CÉREBRO
A adolescência é um período da vida em que começam as principais mudanças biológicas, hormonais e físicas da puberdade. É também a época mais comum para o aparecimento de diversos tipos de doenças de foro psíquico, como ansiedade, transtornos do humo, alimentares e personalidade, psicoses e abusos de substâncias (Giedd 2011). Deste modo, não se deve observar um adolescente como um adulto, independentemente das suas características físicas (mais desenvolvidas).
No TEDtalk de Lindsay Malloy, uma professora de psicologia e investigadora, que tem estudado o modo de inquirição do sistema legal dos Estados Unidos, projetado para adultos, e que apresenta imensas lacunas quando se tratam de jovens adolescentes, Lindsay refere que centenas de estudos psicológicos e neurocientíficos, sugerem que os adolescentes não pensam como adultos, não se comportam como adultos, e não têm uma estrutura de adultos. O cérebro apresenta bastantes diferenças ao nível de desenvolvimento, da estrutura e anatomia. Durante o período de desenvolvimento, ocorrem várias mudanças na sua estrutura e função, especialmente no córtex pré-frontal e no sistema límbico, áreas fundamentais para aspetos como o autocontrolo, a tomada de decisões, o processamento e regulação de emoções e a sensibilidade à recompensa e ao risco.
Estudos demonstram que efetivamente esta região, passa por um desenvolvimento radical durante o período da adolescência, atingindo o seu pico no início da adolescência de facto, dois anos mais tarde nos rapazes em comparação às raparigas, provavelmente porque entram na puberdade em média uns dois anos depois. Após atingir o pico verifica-se um declínio significativo do volume da massa cinzenta no córtex pré-frontal, que apesar de parecer contraditório, é essencial no desenvolvimento cerebral, já que corresponde à eliminação de sinapses menos estimuladas e não desejadas, permitindo que as restantes se tornem mais eficazes.

Já Shakespeare, à quase 400 anos, em "Conto do Inverno", retratava os adolescentes de uma forma muito semelhante, descrevendo-a da seguinte forma: "Desejara que não houvesse idade entre dez e vinte e três anos, ou que a juventude dormisse todo esse tempo, que só serve para deixar as raparigas com filhos, aborrecer os mais velhos, roubar e provocar brigas". E continua dizendo: "Tendo dito isso, a quem ocorreria caçar com semelhante tempo, se não a esses cérebros ferventes, de dezanove a vinte e dois anos?"
ATIVIDADE CEREBRAL
No meio do nosso córtex pré-frontal existe o córtex medial
pré-frontal, esta região é mais ativada em adolescentes, principalmente nas
tomadas de decisão sociais, do que as encontradas nos adultos. Várias análises
apontam que essa área diminui durante o período da adolescência. Os
pesquisadores acreditam que isso se dá, porque os adolescentes e adultos usam
uma abordagem mental diferente e diferentes estratégias cognitivas, para
determinadas decisões sociais.
Além do mais, com relação ao género, segundo o estudo de Giedd, homens e mulheres possuem trajetórias com formatos diferentes, as mulheres tendendo a alcançar o volume máximo das substâncias branca e cinzenta mais cedo que os homens. Estudos longitudinais realizados pelo mesmo, com sujeitos de 3 a 30 anos de idade revelaram que o volume da substância branca continua aumentando até depois da terceira década, enquanto que o volume da substância cinzenta aumenta e depois diminui, atingindo seu máximo em momentos característicos durante a infância e a adolescência, específicos para cada área do cérebro. Essas mudanças estão por trás da melhoria geral nos planos funcional e estrutural, da conectividade e dos processos de integração, e de uma mudança do equilíbrio entre as funções límbicas/subcorticais e do lóbulo frontal que se estendem até a idade adulta.
SINAPSES
Um grande projeto nessa área de pesquisa é conduzido pelo Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos, que conta com cerca de 8 mil imagens de 2 mil pessoas (entre crianças, adolescentes e adultos), oferecendo uma nova perspetiva sobre o desenvolvimento do cérebro. Uma das mudanças mais visíveis nessas sequências de imagens ocorre na chamada massa cinzenta, a região mais exterior do órgão, que é constituída pelos corpos celulares dos neurónios, onde ao contrário do que se possa imaginar, a massa cinzenta diminui ao longo da adolescência.
No entanto, essa diminuição não representa uma perda de neurónios, mas sim devido a uma grande perda de sinapses (ligações entre neurónios, mediadas por substâncias químicas - neurotransmissores). As sinapses começam a aumentar durante a gestação e atingem o pico aos 6 meses de vida da criança, e na adolescência dá-se uma significativa alteração. Nesta transição para a idade adulta, ocorre a morte programada de algumas sinapses, que refina e fortalece as restantes. As que são usadas com frequência são reforçadas, enquanto as que deixam de ser usadas são perdidas, de modo que as opções feitas nessa fase da vida ajudarão a formar o cérebro do adulto.
Ainda relativamente às células do sistema nervoso central, em simultâneo com a diminuição sináptica, ocorre também o aumento na massa branca (axónios) por conta das bainhas de mielina. A mielina é um isolante e aumenta a velocidade de transmissão do sinal entre as células. O aumento na massa branca pode ocorrer até aos 40 anos e ajuste no número de sinapses até os 30 anos.
Portanto, a massa total do cérebro permanece relativamente constante, mas o funcionamento vai se aprimorando graças às mudanças estruturais e químicas. Importante referir que esta especialização sináptica ocorre tanto para os bons como para os maus hábitos.
ATRAÇÃO PELO RISCO
Nos seus comportamentos típicos da adolescência, a tendência de se exporem a situações de risco, é maior do que em crianças ou adultos, estando mais inclinados em assumir riscos quando estão com os amigos, na tentativa de demonstrar a sua independência (dos pais) e impressionar os mesmos. Isto está relacionado com o sistema límbico, que envolve situações como o processamento da emoção e processamento da recompensa (quando fazemos coisas divertidas, incluindo assumir riscos). Esta região torna-se hipersensível ao sentimento de recompensa, quando comparado com adultos, ao mesmo tempo que o córtex pré-frontal (que evita assumir riscos excessivos), ainda se encontra em pleno desenvolvimento nos adolescentes.

O sistema límbico é conhecido como o cérebro emocional, que responde com comportamentos instintivos, emoções e impulsos básicos. As estruturas que compõem este sistema são:
Tálamo (tem como função a integração do sistema sensorial e motor - as células nervosas responsáveis pela comunicação da audição, visão, paladar e tato para o córtex; assim como as sensações de pressão, dor e temperatura)
Hipotálamo (representa menos que 1% do tamanho total do cérebro, semiconsciente, padroniza comportamentos apropriados para cada ocasião, está relacionada com a memória emocional que temos das coisas. É importante para o reconhecimento, formação e manutenção das emoções envolvidas com o medo; o seu estímulo leva a um estado de ansiedade, medo e atenção aumentada);
Giro cingulado (relacionado com o controle visual, auditivo e as alterações das emoções; medicamentos que estimulem essa estrutura podem causar efeitos alucinogénios);
Durante a adolescência observa-se um pico de dopamina, um neurotransmissor ligado ao prazer e recompensa, motivo que leva à procura de emoções e sensações intensas por parte dos adolescentes, levando-os a focar apenas nas sensações positivas, sem dar o devido valor aos riscos e perigos. Uma maior quantidade deste neurotransmissor, propicia uma maior rebeldia, impulsividade e tendência a vícios, uma vez que substâncias viciantes estimulam a produção de dopamina, que por si já é elevada, tornando este ciclo, forte e vicioso.

Por outro lado, níveis baixos de dopamina geram comportamentos como irritação, melancolia, tristeza e até depressão. Neste contexto também entra o sistema límbico, responsável pelas emoções mais primitivas, que uma vez em desenvolvimento, altera emoções, sentimentos e sensações, perturbando o estado psíquico (humor) do adolescente.
Ora, esta remodelação que o cérebro sofre é a principal razão do comportamento rebelde, impulsivo e conflituoso da juventude.
Todas estas alterações têm implicações na educação, na reabilitação e na intervenção, por isso o ambiente, incluindo o ensino, pode e na verdade molda o desenvolvimento do cérebro adolescente. Deste modo salienta-se a importância para um sobre aproveitamento nesta idade, sendo um período da vida em que o cérebro é especialmente adaptável e maleável, propiciando uma oportunidade fantástica de aprendizagem, criatividade, educação e desenvolvimento social.
Daniel Siegel, psiquiatra americano sugere que existem quatro aspetos essenciais na adolescência, o entusiasmo emocional, entrosamento social, busca de novidades e criatividade. Viver com paixão, estar rodeado de amigos, ir atrás de novas ideias e experiências e manter o cérebro sempre criativo são experiências que os adolescentes vivem intensamente e são elas que, quando adultos, mantêm a mente em boa forma.
NO DESPORTO
Como referido anteriormente, a puberdade é um momento de profunda mudança, com muitas transformações e adaptações, não só fisiológicas como físicas e, portanto, visíveis para todos.
Uma vez que nem todos os jovens passam pela puberdade simultaneamente, o desenvolvimento dos carateres sexuais e as alterações que o corpo sofre, podem culminar em confusões emocionais e mentais, levando a que muitos adolescentes tenham "vergonha" do seu corpo (em relação aos restantes).
Este problema da autoimagem, pode levar a um "drop out" nas modalidades desportivas, devido por exemplo, à partilha de balneários e exposição do seu "novo corpo".
Há estudos que comprovam que a práticas de desporto, nas mais variadas modalidades, minimizam os comportamentos de risco, sejam esses sexuais, ou o consumo de álcool e drogas. O desporto é visto então como uma proteção para os adolescentes, cabendo ao treinador ser uma figura acolhedora e manter os atletas ativos e presentes nessa fase da vida.

Por volta dos 18 anos, havendo algumas alterações de acordo com a modalidade, os jovens adultos devem e costumam posicionar-se, no sentido de investimento como carreira desportiva, ou somente recreação, diferindo assim a importância e dedicação a essa modalidade. Alguns, pelas mais diversas razões, optam pelo "drop-out" completo.
A escolha da especialização é induzida por experiências positivas (divertimento e sucesso), sendo fundamental o encorajamento de irmãos mais velhos e/ou pais, assim como o posicionamento do treinador como um elemento agradável e estimulador, contribuindo para um maior envolvimento. A prática deliberada, apesar de exigir maior foco e esforço para o desenvolvimento de competências, deve estar relacionada ao prazer.
É fundamental salientar que a especialização culmina em múltiplos benefícios para o jovem adulto, não somente físicos, como psicológicos e sociais.
Os físicos, além da aprendizagem de competências desportivas, proporcionam uma melhoria de performance e "determinada estética", que podem traduzir-se numa melhor aceitação da sua imagem corporal. Relativamente à saúde, observa-se a prevenção de doenças, como problemas coronários, osteoporose, diabetes, obesidade, etc. A prática desportiva desde bem cedo, torna-se um hábito ou estilo de vida, e tende a estender-se para o resto das suas vidas.
Como fatores psicológicos e sociais, observa-se uma evolução substancial de capacidades como a amizade, cooperação, autoconfiança, autoestima, iniciativa, competitividade e liderança. Uma vez que nesta idade também são estudantes, a autodisciplina e autocontrole são fundamentais para uma boa adaptação e adequada gestão do tempo. O desenvolvimento moral, leva ao fácil (compreensivo) respeito pela autoridade, através do reconhecimento e aceitação de regras e comportamentos próprios da modalidade.
Referências:
Slides e reflexões das aulas práticas de Psicologia do Desenvolvimento, por Prof. Rui Sofia, "Problemas na Adolescência" (15 de maio de 2020)
https://www.enciclopedia-crianca.com/cerebro/segundo-especialistas/maturacao-do-cerebro-adolescente
https://revistaeducacao.com.br/2016/11/17/como-funciona-o-cerebro-do-adolescente/ (31/05/2020)
https://veja.abril.com.br/ciencia/o-cerebro-adolescente/ (31/05/2020)